"Educar em função das situações actuais, significa educar em função das situações futuras"

Prof. Doutor Avelino Bento

terça-feira, 13 de maio de 2008

História de Arronches

História de Arronches





Arronches é uma vila do nordeste alentejano, soalheira, branca e risonha. Não há notícia certa da sua origem, mas pensa-se que no tempo de Caio Calígula, alguns habitantes da vila de Aroche, na Andaluzia, fundaram aqui uma povoação à qual deram o nome de Aroche, em memória da sua terra. A palavra Aroche por corrupção veio dar Arronches. No reinado de D. Afonso Henriques, D. Teotónio, prior de Stª Cruz de Coimbra, tomou-a aos mouros. Tornou a cair no poder dos árabes e foi retomada por D. Sancho II em 1235. Foi novamente tomada pelos mouros, até que em 1242 D. Paio Peres Correia a tornou definitivamente portuguesa. Camões, refere estes factos, nos Lusíadas:

Um sacerdote vê, brandindo a espada
Contra Arronches, que toma, por vingança
De Leiria, que de antes, foi tomada
Por quem por Mafamede enresta a lança:
É Teotónio prior(...)
Passado já algum tempo, que passada
Era esta grão victória, o rei subido
A tomar vai Leiria, que tomada
Fora, mui pouco havia, do vencido.
Com esta a forte Arronches sojugada
Foi juntamente; e o sempre enobrecido
Scabelicastro, cujo campo ameno
Tu, claro Tejo, regas tão sereno.

A primeira carta de foral da vila foi concedida por D. Afonso III em 16/06/1255. Esta carta foi confirmada foral novo por D. Manuel I em 1 de Julho de 1512... Anteriormente, já D. Afonso V, havia convocado cortes em Arronches, em Abril de 1475. Foi igualmente forte praça de guerra, com boa cerca de muralhas. A última investida foi em 1661, quando os castelhanos tentaram apoderar-se da vila. Conta a lenda que os espanhóis puseram uma escada para subir à torre, mas nunca conseguiram, pois a escada era empurrada por mão invisível; era Nª Sr.ª da Luz que a empurrava, não permitindo que os espanhóis roubassem o estandarte português. Durante as lutas liberais sobressaiu o papel desta vila. Perto das suas muralhas houve um combate em que foram derrotadas as tropas miguelistas. Anos mais tarde, D. Carlos escolhia a serenidade desta mesma vila, para cenário das caçadas reais tanto a seu gosto.

Arronches viria a ser um local de fortes tradições democráticas, um "baluarte glorioso e formidável do republicanismo alentejano", como diria Teófilo Júnior, notável professor aqui nascido. Um dos acontecimentos marcantes na vida política de Arronches, seria o grande comício organizado pelo Partido Republicano, a 7 de Agosto de 1910, com a presença de Bernardino Machado e que reuniu 4000 pessoas. Quando a República foi proclamada, Teófilo Júnior, jovem republicano arronchense, juntamente com outro estudante, Barradas Tenório, proclamam o novo regime de uma das janelas dos Paços do Concelho, onde foi içada a primeira bandeira da República. Da 1ª República aos dias de hoje, os anos que passaram, foram marcados pelos grandes acontecimentos nacionais ou internacionais, vividos em todo o país. A primeira e segundas guerras mundiais, a guerra civil espanhola e a guerra em África também marcaram as nossas gentes... Tratando-se de uma vila raiana, a guerra civil espanhola foi palco para actividades de contrabando ( café, açúcar, cereais, ovos ...). O contrabando de amores acabou por unir dois povos que esvaneceram rivalidades ao longo da fronteira. Apesar destas vicissitudes, Arronches viveu tempos áureos no que concerne ao comércio e indústria, nomeadamente no período pós-guerra (década de 50). As minas de cobre, cujos veios teimam em sangrar nos nossos dias, foram semente de desenvolvimento, que marcaram uma época. As moagens, os ferreiros, os oleiros e fábricas de tijolo e telha deram nome a famílias como Morais, Marouços, Bigares... Esta prosperidade foi efémera.